domingo, 11 de outubro de 2009

No Aniversário da fundação da Associação de Bombeiros de Torres Vedras


Hoje, 11 de Outubro, comemora-se mais um aniversário sobre a fundação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras, acto que teve lugar no meio de grandes festejos (documentados pela fotografia de cima) que tiveram lugar nesse ano distante de 1903.

Aqui registamos as origens dessa associação:

Algumas notas sobre a origem e a evolução da Associação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras -

1

Entre o final do século XIX e o princípio do século XX assiste-se ao nascimento e desenvolvimento de um movimento de associativismo laico que, não só correspondeu a uma crescente afirmação da sociedade civil, como a uma notória descentralização dos poderes do Estado, fruto da expansão das ideias liberais e democráticas e ainda de um acentuado crescimento urbano, com todas as consequências urbanísticas, culturais, sanitárias e sociais que daí resultaram .
Em Torres Vedras, os serviços que hoje atribuímos aos Bombeiros competiam, em última instância, até à criação daquela associação, à Câmara Municipal.
Isso se pode deduzir quando, por ocasião da fundação da ABVTV, em sessão camarária, se refere a solicitação do “seu [ da Câmara] material d’ incêndios para uso d’ aquelle corpo [de Bombeiros]” (1).
A organização de um serviço oficial de socorro a incêndios está documentada em Portugal desde o tempo de D. João I, quando este expediu uma carta régia sobre o assunto em 25 de Agosto de 1395, dirigida à cidade de Lisboa.
Em Torres Vedras só temos conhecimento de preocupação idêntica em pleno século XIX quando, em sessão camarária de 8 de Agosto de 1872, o Administrador do Concelho, Dr. Manuel António da Costa, presente na mesma, requer da câmara a adopção de “algumas providências para a extinção de incêndios”. Dando seguimento a esse requerimento, a Câmara “deliberou nomear uma commissão para obter donativos, a fim de se levar a effeito a compra de uma bomba e mais utensílios necessários para acudir aos incêndios”.
Para fazerem parte dessa comissão foram nomeados o Dr. Luís António Martins, o prior António Joaquim d’Abreu Castello Branco, José Avelino Nunes de Carvalho e Francisco José de Bastos , ficando a aguardar-se que os mesmos fossem oficiados dessas funções e pedindo-lhes que “se dignassem acceitar por bem do serviço publico” (2).
Se essa comissão chegou a funcionar ou se tomou algumas medidas é assunto que as nossas fontes não permitem esclarecer.
Contudo, não deixa de ser significativo que essa preocupação manifestada pelo administrador do concelho, de nomeação governamental e geralmente em contacto permanente com a capital, seja contemporânea de uma profunda reforma e modernização dos serviços de incêndio em Lisboa, levadas a cabo por Calos José Barreiros, nomeado inspector em 21 de Abril de 1868 e reformado em 1899.
As medidas então tomadas não devem ter passado despercebidas ao dito administrador que as terá procurado implementar em Torres Vedras.
A primeira vez que se manifestou publicamente a necessidade da criação de uma associação de bombeiros neste concelho foi em Junho de 1887, nas páginas do jornal “A Voz de Torres Vedras”.
O motivo foi um incêndio que se registou na madrugada de 2 de Junho desse ano, “na viela chamada de Luís Cardoso, a mais estreita desta vila, onde se achava estabelecido n’ uma casa de proporções muito acanhadas o Restaurant Torreense”, e a dificuldade que os populares enfrentaram para combater o sinistro, com mangueiras em mau estado de conservação.
Após a extinção do incêndio, o Administrador do Concelho reuniu-se com algumas das pessoas que tinham combatido aquele incêndio e “assentou (...) na formação de uma associação de bombeiros, ideia utilíssima e altamente humanitária que estimam ver realizada em breve espaço” (3).
A ideia de criar um corpo local de bombeiros voluntários voltou a ser ventilada pela direcção do Grémio Artístico e Comercial por duas vezes, numa reunião em 18 de Janeiro de 1892 e numa outra, efectuada em 3 de Março de 1898 (4).
Uma nova tentativa teve lugar no ano seguinte, quando Filippe Nery Bally [?] , então a residir na vila, se apresentou na sessão camarária de 13 de Julho de 1899 para dar “as necessárias explicações acerca de um officio que dirigiu à Câmara em 6 deste mês, no qual expunha que desejando formar nesta mesma villa um companhia de bombeiros voluntários, pedia lhe fosse cedido o material de incêndios, pertencente ao Município; ficando a Câmara sem encargo algum, tanto para a installação da alludida companhia de bombeiros, como para reparação do material. A Câmara resolveu encarregar os srns. Presidente e Vice-presidente, de resolverem o assumpto como melhor entendessem”(5).
A tal iniciativa não deve ter sido estranho o facto de, poucos meses antes, se terem dado dois dos maiores incêndios registados em Torres Vedras, um, fogo posto, na “madrugada de 15 de Maio de 1899 na fabrica de gasosas de Cruz & Paiol, instalado no ultimo prédio à saída da vila próximo à ponte da Mentira “ e outro, a 30 de Junho, “no prédio da Viuva Miranda & Filho” (6)
Tais iniciativas não passaram das boas intenções, embora se estivesse cada vez mais próximo do momento decisivo para a concretização de tão premente necessidade.

(1) Livro de actas de Sessões da Câmara Municipal de Torres Vedras (Lº ASCMTV), nº 36 (1901-1909), sessão de 14 de Maio de 1903, f.69, Arquivo Municipal de Torres Vedras (AMTV).
(2) Lº ASCMTV nº 30 (1864-1873), sessão de 8 de Agosto de 1872, f. 279, AMTV.
(3) A Voz de Torres Vedras, Junho de 1887.
(4) COSTA, Emílio Luís, “Emílio Maria da Costa – O Fundador dos Bombeiros de Torres Vedras”, in Torres Cultural, nº 5, 1992, pp.52 a 56.
(5) Lº ASCMTV nº 35 (1895-1901), sessão de 13 de Julho de 1899, f. 232 v, AMTV
(6) VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, ed. Livraria da Sociedade Progresso Industrial, Torres Vedras, 1926, pp. 228 e 229.
2

Deveu-se a Emílio Maria da Costa a iniciativa de sensibilizar as elites torrienses de então para a necessidade de se criar um corpo de bombeiros neste concelho.
Natural de Santarém, onde nasceu em 10 de Junho de 1865, e cabeleireiro de profissão, era proprietário em Torres Vedras de “uma barbearia na rua Paiva de Andrada, frente ao actual Café Império, sendo a sua clientela constituída por elementos da melhor sociedade da época”.
Emílio Costa tinha experiência como bombeiro, pois, antes de da sua vinda para Torres Vedras, pertenceu à Corporação dos Bombeiros Voluntários de Santarém(7).”Tanta propaganda fez sobre o assunto, tanto maçou o bichinho do ouvido dos seus clientes e amigos que organizou uma Comissão” para fundar uma associação de bombeiro (8).
Torna-se pela primeira vez pública a existência de tal comissão em 26 de Abril de 1903 quando, num artigo do jornal “Folha de Torres Vedras” é feita “referência a uma petição com grande número de assinaturas, destinada a ser entregue às companhias de seguros e cujo fim procuraria avaliar as possibilidades de comparticipação das mesmas, caso se formasse uma corporação de Bombeiros” (9).
No dia seguinte, 27 de Abril, é distribuído pela população torriense um aviso convocando para uma reunião, marcada para as “8 horas da noite no salão-theatro do Grémio Artístico-Commercial” (10).
Esse documento era subscrito por Theodoro da Cunha, José Maria de Miranda, João Guimarães Júnior, José Joaquim de Miranda e Júlio Vieira.
Theodoro da Cunha era notário da Comarca e tinha sido o primeiro director do jornal “Folha de Torres Vedras”, vivendo na vila e com a idade de 35 anos:

José Maria de Miranda era farmacêutico em Torres Vedras e tinha 44 anos.
João Guimarães Júnior era um conceituado comerciante da vila, então com 51 anos.
José Joaquim de Miranda era um proprietário agrícola da vila com 34 anos.
Júlio Vieira era o mais jovem e também, na actualidade, o mais conhecido de todos, então no início da sua vida social. Tinha apenas 27 anos, era comerciante e editor e administrador do jornal “Folha de Torres Vedras”(11).

Aquela assembleia, presidida por Joaquim José de Bastos, vice-presidente da Câmara, reuniu cerca de 150 pessoas e dela saíram três subcomissões destinadas a criar condições para a formação de um associação de bombeiros.
A cada uma foram atribuídas tarefas distintas: uma destinava-se à angariação de donativos (dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, António Agostinho da Silva Henriques, presidente da câmara, Manuel Francisco Marques, dr. Francisco de Carvalho Martins e Manuel José de Paula Guimarães) ; outra à elaboração dos estatutos (Theodoro da Cunha, Júlio Vieira e José Maria de Miranda); a terceira à “organização de festejos e diversões destinadas a criar receitas” (José Joaquim de Miranda, João Ferreira Guimarães Júnior, José Pedro Lopes, José Augusto Cabral, José Rodrigues, José Maria de Almeida Trigueiros e Emílio Maria da Costa)(12).
Dos 17 membros dessa “grande comissão”(13), 16 viviam na vila, 11 pertenciam ao sector terciário (5 comerciantes, 1 barbeiro, 1 escrivão de direito, 1 farmacêutico, 1 advogado, 1 conservador e 1funcionário público), 5 eram proprietários e 1 pertencia ao sector secundário ( 1 alfaiate ).
Pouco mais de metade, 9, tinham menos de 36 anos. As tradicionais elites políticas estavam aqui bem representadas, sendo significativa a presença de personalidades ligadas ao Partido Regenerador, em número de 6, contra apenas duas do Partido Progressista.
Era, contudo, esmagadora a presença de personalidades sem opção política até então conhecida, em número de 9. Destes, em breve, quase metade vai aderir à República.
Através da composição dessa comissão anuncia-se uma recomposição da elite local que tradicionalmente participava neste tipo de iniciativas, quer pela juventude da maior parte deles, quer pelo estatuto social urbano esmagadoramente dominante e renovado pela presença de profissões geralmente marginalizadas da vida social, como as de alfaiate e de barbeiro .
Se é verdade que nela encontramos as mais destacadas figuras que representavam as tradicionais tendências políticas, como o Dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, advogado, líder concelhio do Partido Regenerador, ou Manuel Francisco Marques, proprietário, líder local do Partido Progressista, também é verdade que encontramos duas das figuras que vão marcar as novas tendências políticas que se desenvolverão no princípio do século: Júlio Vieira, então apenas com 27 anos, que se destacará em breve como um dos mais dinâmicos propagandistas do ideário republicano e Mário Galrão, então também um jovem de 29 anos, que em breve vai liderar localmente o recém criado Partido Regenerador-Liberal (“Franquista”), e, futuramente, vai ser um dos mais destacados líderes monárquicos anti-republicanos.
Mas uma outra realidade que se afirma com a composição desta comissão é a forte componente regionalista que, ao longo da história local da primeira metade do século XX, se sobrepõe às clivagens políticas, sociais e geracionais quando se trata de construir algo para o bem da comunidade.
Foi este espírito que, desde o princípio, esteve presente nos destino da Associação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras.

(7) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.
(8) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.; O Torreense, nº 30, 11 de Outubro de 1943.
(9) ROSA, António da Silva, “O Gérmen da Corporação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”, in “75º Aniversário dos Bombeiros Voluntários”, Suplemento especial do nº1188 do jornal Badaladas, 13 de Outubro de 1978.
(10) ROSA, António da Silva, ob.cit.; “Especial Bombeiros – Um Século de Coragem”, suplemento do jornal FrenteOeste, 30 de Janeiro de 2003.
(11) Dados elaborados a partir do cruzamento de vários cadernos eleitorais de 1908 a 1914, AMTV. Existe uma ligeira margem de erro no que diz respeito às idades de + 1 ano de idade.
(12) ROSA, António da Silva, ob.cit.; “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(13) ROSA, António da Silva, ob.cit; “Torres Vedras e os seus Bombeiros ...”, ob. cit.

3

Reuniu aquela comissão no dia 30 de Abril para tomar algumas das decisões fundamentais para a concretização do projecto.
Uma delas foi a formação de uma direcção provisória presidida pelo Dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira e assessorada pelo Dr. Francisco Martins, como 1º secretário, por António Augusto Cabral, como 2º secretário, e por Manuel de Paula Guimarães, como tesoureiro (14).
Outra decisão foi a de abrir uma subscrição pública, tendo-se, com essa finalidade, enviado mensagens a várias empresas e personalidades, destacando-se a que se enviou “a Sua Majestade El-Rei D. Carlos (...) solicitando qualquer donativo para tal fim” (15) pedido a que este acedeu doando 20 mil réis (16).
Um dos apoios mais significativos veio do executivo municipal que, em sessão de 15 de Maio, tomou oficialmente conhecimento da solicitação, por parte do “presidente da Commissão que n’esta villa se organisou para promover a creação d’um corpo de bombeiros, n’esta villa, e dotál-o com o material necessario”, da cedência do material de incêndio da Câmara “para uso d’aquelle corpo quando esteja devidamente organisado” e de um “donativo para a compra do que é necessário adquirir e a concessão d’um subsidio annual para as despesas a fazer com a guarda e conservação do mesmo material” .
O executivo municipal “resolveu de bom grado que o material d’incendio que possue fique junto ao que a Commissão vae adquirir, podendo o corpo de bombeiros que aqui se venha a organisar d’elle fazer uso”, decidindo igualmente inscrever “no seu primeiro orçamento” uma verba “não inferior a 60.000 réis annuaes para ser gratificado ou subsidiado o encarregado a quem ficar o encargo da guarda e limpesa do material, aguardando a formação do corpo de bombeiros voluntarios e a approvação dos seus respectivos estatuto para ponderar um assumpto que lhe parece altamente justo e humanitario”(17).
No dia 25 de Junho reuniu-se nova assembleia, presidida por Joaquim José de Bastos onde se aprovaram os estatutos e se autorizou a compra de material necessário (18).
Em sessão camarária de 30 de Julho era lido um ofício do Administrador do Concelho, datado de 27 “do corrente mez, acompanhado do projecto de estatutos d’ Associação de Bombeiros Voluntários que se pretende estabelecer n’esta vila, pedindo à Câmara para infomar o que lhe ofercesse sobre o assumpto”, ao qual o executivo respondeu achar “de toda a vantagem a constituição da referida Associação e muito bem elaborados os seus estatutos” (19).
Os estatutos foram aprovados por alvará de 23 de Outubro de 1903. Eram compostos por 8 capítulos e 44 artigos. O artigo 2o definia como objectivo da recém criada Associação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras “prestar socorros aos habitantes da villa e outras localidades do concelho, até onde o seu auxílio fôr possível, quer e principalmente nos casos de incendio, quer nas calamidades publicas, taes como innundações, desabamentos, etc.” (20).
Anote-se, a título de curiosidade e como sinal dos tempos que, embora admitindo como associados indivíduos, “sem distincção de sexo ou edade”[Artigo 4º], as “senhoras casadas (...) só poderão ser admitidas como socios, com previa auctorisação por escripto, dada pelos maridos (...)”[Artigo 5º], não lhes sendo permitido participar nas assembleias (Artigo 16º : “A assembleia geral é constituída pelos socios do sexo masculino (...)”) (21).
Entretanto tinha-se encerrado a subscrição pública, que contou com 268 subscritores e um total de 1 247$950 réis de donativos recolhidos (22).
Ainda antes dos estatutos oficialmente aprovados, marcou-se uma grande cerimónia pública para o dia 11 de Outubro de 1903, um Domingo, “solemnisando a chegada e installação, no quartel provisório na rua de S. Thiago, do material já adquirido para Corporação de Bombeiros Voluntários” (23) data que passou a ser considerada como a da fundação desta associação.
Nesse dia “num grande ambiente de festa a que concorreu a Fanfarra União Torreense, chegou à estação de caminho de ferro o material adquirido com a verba” obtida com a subscrição pública. “Choveu todo o dia, mas apezar de tudo, pelas 5 horas da tarde, organizou-se o grande cortejo que conduziu o material para o quartel provisório situado próximo da rua de S. Tiago, seguindo-se pelas ruas Mouzinho de Albuquerque, Dias Neiva, S. Pedro, Serpa Pinto, Paiva de Andrada e S. Tiago”(24).
“Chegado que foi o material ao quartel, onde estavam o sr. Joaquim José de Bastos, vice-presidente da Câmara Municipal, alguns membros da commissão e outras pessoas, a Fanfarra União Torreense tocou o hymno nacional, e por essa ocasião foram levantados vivas à Câmara Municipal de Torres Vedras, Corporação de Bombeiros, povo de Torres Vedras, Dr. Aleixo de Sousa, presidente da commissão, Júlio Cardoso [chefe da contabilidade da Inspecção Geral de Incêndios, que veio propositadamente de Lisboa para assistir a este evento], José Maria de Miranda, etc. Recolhido o material um dos membros da commissão, o Senhor Theodoro da Cunha, proferiu algumas palavras allusivas ao acto, depois do que novos vivas se ouviram”(25) .
Seguiu-se um jantar onde se fizeram “muitos e afectuosos brindes”, organizando-se à noite “uma marcha “aux flambeaux”” acompanhada pela Fanfara União Torreense e pela Filarmónica Torrense (26).
Do primeiro corpo de bombeiros faziam parte Emílio Maria da Costa, este como sócio nº1, Januário Pinto dos Santos, José Augusto Cabral, António Baptista da Costa, João Franco, Francisco Germano Alves, Joaquim Miguel, António Pedro, Miguel da Silva Marques, Casimiro Dimas, José da Costa, Sebastião Menau, José Maria do Espírito Santo, Ubaldo dos Santos, Manuel Ferreira, João Henriques dos Santos, José Miranda, Cândido Ferreira dos Santos, Laurentino da Conceição Santos. Manuel Maria Thomé, João Hypólito Rosa, António da Silva, Ernesto Albino, António Correia dos Santos, Severino António, Joaquim Moleiro, José António, Augusto dos Santos e Oliveira, este como 1º corneteiro, e Joaquim Jeronymo Rosa, encarregado da ambulância (27).
José Maria de Miranda e José Joaquim de Miranda foram eleitos provisoriamente como primeiro e segundo comandantes do corpo de bombeiros no dia 18 do mesmo mês, cargos para os quais foram eleitos em definitivo no dia 7 de Dezembro. Nesta mesma data eram igualmente nomeados “para chefe ajudante o sr. Emílio Maria da Costa, para secretário do comando o sr. António Bastos e para capelão do Corpo de Bombeiros, o cónego prior António Francisco da Silva”(28).
No dia 9 de Novembro é formada a lista para a primeira direcção eleita: Direcção - Joaquim José de Bastos, Theodoro da Cunha, João Ferreira Guimarães Júnior e João Chrysóstomo da Costa; Suplentes da Direcção – José Rodrigues, José Maria d’ Almeida Trigueiros, João Maria Castanho e Manuel Coelho Cláudio Graça; Mesa da Assembleia Geral – Presidente, Dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, Vice-presidente, Manuel José de Paula Guimarães, 1º Secretário, António Augusto Cabral, 2º Secretário, Júlio do Nascimento Vieira; Conselho Fiscal – Dr. Francisco de Carvalho Martins, Mário Galrão e Cândido Sousa Nascimento Vieira; Suplentes – Joaquim José Rodrigues da Silva, Caetano Augusto de Figueiredo e Henrique Reis Pereira (29).
No dia 28 de Fevereiro de 1904, por ocasião da Procissão dos Passos, a corporação apresentou-se ao público com o seu uniforme de gala.
Finalmente, para encerrar este primeiro capítulo da história desta associação só faltava instalá-la em lugar condigno.

(14) ROSA, António da Silva, ob.cit.
(15) CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, Contributo para o historial da vida da Associação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras, aquando da inauguração do Novo Quartel, ed. ABVTV, Torres Vedras, 11 de Novembro de 1984, p. 9.
(16) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.
(17) Lº ASCMTV nº 36 (1901-1909), sessão de 14 de Maio de 1903, f. 69, AMTV; acta integralmente transcrita em CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.9 , e em ROSA, António da Silva, ob.cit.
(18) CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.10 ; ROSA, António da Silva, ob.cit.
(19) Lº ASCMTV nº 36 (1901-1909), sessão de 30 de Julho de 1903, f. 78, AMTV.
(20) Estatutos da Associação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras aprovados por Alvará de 23 de Outubro de 1903, 1º ed., s/d, p.5.
(21) Estatutos da Associação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras aprovados por Alvará de 23 de Outubro de 1903, 1º ed., s/d, pp.5, 6 e 8.
(22) ROSA, António da Silva, ob.cit.
(23) Folha de Torres Vedras, 18 de Outubro de 1903; CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.10; ROSA, António da Silva, ob.cit.
(24) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(25) Folha de Torres Vedras, 18 de Outubro de 1903; ROSA, António da Silva, ob.cit.; CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.10 .
(26) CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.10.
(27) ROSA, António da Silva, ob.cit ; CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.10.
(28) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(29) CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.11.

4

Na sessão camarária de 25 de Fevereiro de 1904 foi “lido um officio da Direcção da Associação dos bombeiros voluntários d’esta villa, fazendo sentir que não tendo aquella Associação casa apropriada onde installar o respectivo material d’incêndio e havendo no edifício municipal dependencias que a Camara não utilisa, lembrava e pedia para alli collocar o seu material”. Dando provimento a esse pedido o executivo municipal “concedeu auctorisação para que na loja e 1º andar onde antigamente foi cadeia e de que a Câmara se não serve, fosse, conjunctamente com o seu material d’incêndios, collocado o d’aquella Associação” (30).
Finalmente, em 26 de Junho, aquela associação instala o seu material naquele que foi o seu Quartel até à inauguração de novas instalações em 1934.
Compunha-se então o seu material “de uma bomba Jank, uma Guiot, uma bomba estanca-rios, um carro de material sistema Guilherme Gomes Fernandes, além de cintos, pás, achotes, baldes, espias, machados, picaretas, etc.”(31).
O primeiro serviço oficial em que o corpo de bombeiros torriense interveio “foi num incêndio ocorrido num prédio da rua Portela (ao Castelo) em 27 de Janeiro de 1905” (32).
Fora da vila, o primeiro serviço de socorro prestado teve lugar em Runa, em 28 de Novembro de 1908, “na casa do sr. Figueirôa Rêgo” (33).
O primeiro serviço registado fora do concelho teve lugar no Bombarral, num grande incêndio em 30 de Agosto de 1925.
Na década de 30 a Associação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras conheceu um assinalável crescimento qualitativo e quantitativo.
Pela primeira vez o número de ocorrências ultrapassou as 10 anuais (em 1938) .
Por outro lado participou activamente nos grandes Congressos dos Bombeiros Voluntários (Estoril, em 1930, Setúbal, em 1931 e 1935, e Covilhã, em 1932) .
Na actividade destes congressos tiveram participação activa e de destaque os representantes da associação torriense, o inspector José Maria de Miranda, os comandantes José Joaquim de Miranda e Joaquim Paulino Pereira , os directores dr. Justino de Moura Guedes e Dr. Alberto Coelho Graça, e o tenente França Borges.
Mercê de tão meritória colaboração nesses congressos, o tenente França Borges foi nomeado para primeiro presidente da Liga dos Bombeiros Portuguesas e o comandante Paulino Pereira para o Conselho Administrativo e Técnico da mesma Liga. A Corporação de Torres Vedras tornou-se ainda o sócio nº1 da Liga.
O mesmo comandante Paulino Pereira teve ainda um papel determinante na organização de várias associações de bombeiros na região, tendo “prestado instrução a todas as Corporações das seguintes localidades: Alcobaça, S. Martinho do Porto, Sobral de Monte Agraço, Bombarral, Nazaré e Peniche”(34).
Também nessa década se introduziu uma novidade, a criação de postos rurais, com base numa ideia lançada pelo Tenente França Borges na comunicação que apresentou no congresso de Setúbal de 1935, intitulada “Bombeiros Voluntários, Agentes de Educação Social nos Concelhos Rurais”.
Defendia-se “que o material antigo da nossa Corporação fosse distribuído pelas freguesias rurais mais distantes”, (35) inaugurando-se em 1936, na Ribaldeira, o Posto Rural nº1 e, posteriormente, no Maxial em 1942, o Posto Rural nº2.
Mas o momento mais importante dessa década foi a inauguração do novo Quartel.
Em 17 de Maio de 1930, o executivo municipal deliberou “construir um edifício próprio para o Quartel dos Bombeiros de Torres Vedras” para cujo fim concedeu um empréstimo de 120.000$00 réis, subscrito por 6 anos sem juros “pelos srs. José António Vieira, Dr. Júlio César Lucas, José Eduardo César, Filipe de Vilhena, João Maria Castanho, José Anjos da Fonseca e José António Lisboa” (36).
Em 1931 estava concluída a planta do quartel (37). Iniciadas as obras as verbas do empréstimo revelaram-se insuficientes, pelo que “a Câmara Municipal foi reforçando sucessivamente as verbas para que o edifício se concluísse. Para ele contribuiu ainda o sr. Governador Civil com a verba de 10.000$00 réis”(38). O novo Quartel foi inaugurado em 1934, sendo baptizado por ocasião do 32º aniversário da corporação, “tendo como patronos respectivamente o sr. António Vitorino França Borges e o sr. Emílio Maria da Costa” (39).
Neste novo Quartel , além “dum excelente balneário e duma espaçosa e higiénica camarata,” existia “uma bem montada rede de alarmes anexa à cabina telefónica que permite, em caso de sinistro, chamar rapidamente ao quartel todos os bombeiros sem que a população da vila seja alarmada ou perturbada no seu descanso nocturno”. Possuía ainda “o mais moderno e eficaz sistema de arrumação dos equipamentos de combate em armários separados mas que se abrem simultaneamente”(40).
Foi no seio desse Quartel, até à inauguração do actual em 11 de Novembro de 1984, que os bombeiros torrienses mais tempo viveram a sua história e é a ele que está ligada a memória romântica que muitas gerações desta cidade guardam dos seus bombeiros.
Dessa memória não resistimos a transcrever uma saborosa descrição de alguém que viveu bem de perto essa realidade, o filho do comandante Paulino Pereira: “Quando pela noite dentro, a campainha retinia no quarto dos meus pais e se acendia uma luz vermelha, intermitente, todos nós ficávamos em sobressalto. Era chamada urgente vinda do Quartel. Se era durante o dia, alguém mais expedito corria à Igreja de S. Pedro ou da Graça para tocar a rebate, espalhando-se o som dos sinos por toda a vila: “Há fogo, há fogo!”... gritava-se. E sentia-se uma certa agitação entre as pessoas que, até aí, circulavam calmamente (...). O velho pronto-socorro “Fiat”, preenchidos os bancos com os primeiros bombeiros chegados ao Quartel, arrancava sem demora. (...) A sirene não se calava, E lá seguiam dispostos a tudo. No regresso, comentava-se então nas ruas, cafés e casas particulares a sua acção meritória” (41).
Da história desta centenária instituição e do muito que Torres Vedras lhe deve, muito ficou por dizer: os inúmeros louvores que recebeu; as muitas visitas ilustres que a homenagearam com a sua presença; a sua importante acção cultural, nomeadamente mantendo uma das mais prestigiadas bandas do país; os muitos torrienses, uns mais ilustres outros mais anónimos, que contribuíram para o seu engrandecimento; as grandes e pequenas histórias de heroísmo e abnegação que se viveram à sua volta.

(30) Lº ASCMTV nº 36 (1901-1909), sessão de 25 de Fevereiro de 1904, f. 94, AMTV.
(31) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(32) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(33) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(34) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(35) CARVALHO, Adão de, PAULO, Joaquim, ob. cit., p.24.
(36) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(37) ROSA, Dr. António da Silva (síntese factual pelo), “Subsídios para a história dos 75 anos da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”, in “75º Aniversário dos Bombeiros Voluntários”, Suplemento especial do nº1188 do jornal Badaladas, 13 de Outubro de 1978.
(38) “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(39) ROSA, Dr. António da Silva (síntese factual pelo), “Subsídios para a história dos 75 anos da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”, ob. cit.
(40) GRAÇA, Alberto, “Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”, in A Hora, nº 42, Lisboa 1936, pp.28 e 29.
(41) PEREIRA, J. Paulino, “Bombeiros: a corporação que eu conheci”, in Badaladas, 26 de Fevereiro de 1999, p. 18.

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Mais um excelente contributo para a História torriense. Parabéns, Venerando!