sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

TORRES VEDRAS HÁ 120 ANOS NA IMPRENSA LOCAL

NOVEMBRO 1889
(Largo da Estação)

Festas populares e caçadas eram algumas das poucas distracções desse tempo.

No primeiro domingo do mês tinha lugar “na Ermida da Casa e Quinta do Juncal, em Matacães, festa ao Sagrado Coração de Jesus” (A Semana, 7-11-1889).

A caça era uma actividade mais burguesa, realizando-se a meio da semana, como se pode ler na seguinte notícia, interessante também pela descrição que faz do lugar de Porto Novo:

“Na terça-feira, 5 do corrente, o sr. Dr. Justino Xavier da Silva Freire convidou alguns dos seus amigos (…) para uma caçada nas suas propriedades da Maceira.

“Foi escolhido o sítio do cazal do Porto Novo junto à Foz, nos mattos que em grande vastidão se estendem até ao alto do Seixo. D’este ultimo ponto começaram-se a bater os pinhaes até à enseada da Foz, tendo começado os exercícios às 10 horas da manhã e terminando às 5 da tarde, matando-se 38 coelhos e uma lebre” (A Semana, 7-11-1889).

Torres Vedras conhecia um assinalável crescimento urbano, mercê da chegada do caminho-de-ferro à então vila. A notícia do nascimento da futura Avenida Tenente Valadim, então designada por “Rua Nova”, era uma das notícias do mês:

“Já se anda preparando o solo para collocar a tubagem de ferro que substituirá o acqueducto de pedra por onde corriam as aguas, na parte contigua à Commenda, e que foi preciso demolir para fazer uma rua nova que seguirá do começo da Avenida do Caminho de ferro, do lado do nascente, e que virá desembocar à rua da Cerca, contigua ao largo do Rosário.

“Esta nova rua que será somente para transito de peões, é uma excellente serventia da estação do caminho de ferro para a parte baixa da villa”. (A Semana, 14-11-1889)

Outras obras acompanharam essa expansão urbana :“Vae ser reparada por conta da Companhia dos Caminhos de Ferro o largo em frente das portas da estação, que, quando chove, é um grande lameiro. As obras a fazer-se é terraplanar as covas, e dar escoante às aguas. Depois será bom também que os dois lampiões que ornam a fachada da estação não sirvam só para vista (A Semana, 28 de Novembro 1889).

Um dos monumentos mais emblemáticos da vila era igualmente alvo de reparações :“Estão-se fazendo obras nos telhados da egreja da Graça, que tanto careciam de ser reparados” (A Semana, 21-11-1889).

Curiosa é ainda uma notícia sobre o valor das “Jornas” dos trabalhadores rurais:

“(…) os trabalhadores estão-se actualmente pagando aqui 360 a 400 réis diários” (A Semana, 14-11-1889).

A importância da actividade vinícola era ainda patente numa outra notícia onde se referia o movimento comercial da região de Torres:

“A procura existe, e as offertas attingem para os vinhos de 1888, entre 10 e 12 libras por tonnel. Para os vinhos novos os preços variam, não nos constando vendas por valor inferior a 8 libras por tonnel, e sempre d’ahi para cima conforme a qualidade; os vinhos brancos vendem-se de 500 a 600 réis o almude, conforme a sua riqueza alcoólica” (A Semana, 21 de Novembro de 1889).

DEZEMBRO DE 1889

A vida religiosa marcava o quotidiano torriense :“No domingo, 8 do corrente, fez-se no templo da Collegiada de S.Pedro, com a devida solemnidade, a festa a Nossa Senhora da Conceição, a expensas da irmandade do mesmo titulo, instituída em 25 de Outubro de 1820.” (A Semana, 12-12- 1889).

Mas o profano ganhava terreno através do associativismo, como se percebe pela seguinte notícia:

“Theatro Chalet

“No CLUB d’esta villa houve no sabbado uma reunião de differentes pessoas, d’onde se apurou mais uma tentativa para a construcção d’uma casa de espectáculos de edificação ligeira e moderna.

“Para dirigir os trabalhos preliminares foram acclamados os sr.s dr. Luís António Martins, Manoel Francisco Marques e Augusto dos Santos Ferreira” (A Semana, 12-12-1889).

As obras no Convento da Graça prosseguiam a bom ritmo:

“O templo pertencente à Irmandade do Senhor Jesus dos Paços, vae apparecer com as gallas que dão o aceio e o cuidado. O telhado foi todo reparado; o interior e o exterior do templo será caiado e a cantaria lavada.

“Da torre foi apeiado o sino grande que estava fendido, e serão gateiadas as cantarias.

“O sino vae ser vendido para com o donnativo Luiz de Abreu occorrer às despezas que alli se andam fazendo.

“Será bom pensar em seguida em realizar n’aquelle vasto templo os officios do culto Divino, aproveitando a sua excellente localisação, e offerecendo grande commodidade aos moradores da villa” (A Semana, 26 de Dezembro de 1889).

Sobre o tal sino “ apeado da torre da egreja da Graça (…) tem a nota de fabricado em 1787 nas officinas de um tal Oliveira. Pesa 978, 800 kilos” ( A Voz de Torres Vedras, 28-12-1889).

JANEIRO 1890

Preocupações com o estado sanitário da vila marcaram as primeiras notícias do ano:

“É rara a casa em Torres Vedras onde não haja um doente, e em algumas acontece que estão de cama todas as pessoas de família.

“Pelos diversos logares das freguezias do concelho há egualmente uma sensível alteração no estado sanitário, que accusa indiscutivelmente uma corrente, se não epidémica, pelo menos endémica.

“O carácter das doenças dominantes são: as bronchites e as tracheites, em casos exporadicos; a grippe e a influenza atacando com tenacidade.

“A provação dos doentes não é, porem, para desesperar. Os ataques, posto sejam intensos, são logo succedidos de melhora. As crises fabris não se fazem demorar, e é notável a declinação no período agudo da doença, que deixa, comtudo, demorados estragos no organismo.

“Nas pharmacias teem-se vendido arrobas de flor de borragem, e milheiros de sinapismos Rigollot.

“Os arsenais da therapeutica teem soffrido ataques medolhos nas seivas de pinheiro, nos xaropes de lactucario, nas antipyrinas e aconittus” (A Semana, 9-1-1890).

Nesse mês teve lugar o tradicional mercado de S. Vicente

“Não foi das mais concorridas, mas com tudo o gado suíno vendeu-se quasi todo.

“O preço da carne começou a 2$800 e chegou a 3$100” (A Semana, 23-1-1890).

Frequentemente, muitas vezes acompanhando a realização de festas ou feiras, a vila era visitada por artistas ambulantes:

“Em uma casa na rua dos Celleiros d’esta villa, está uma pequena troupe d’artistas dramáticos dando uns espectáculos que são limitadamente concorridos, porque,infelizmente, ao presente em Torres Vedras, tudo quanto se apura é para pharmacos” (A Semana, 23-1-1890).

Este mês de Janeiro foi igualmente marcado pela decisão de se iniciar a constituição de uma nova associação, tendo por base uma mais antiga, que deu origem ao ainda hoje existente Clube Artístico e Comercial, a mais antiga em funcionamento:

“Na segunda-feira [27 de Janeiro], a requerimento de precioso numero de sócios reuniu a assembleia geral do Club Torrense para tomar conhecimento do desejo por elles manifestado de que fosse substituído aquella antiga denominação pelo de Grémio de Torres Vedras.

“Assim foi resolvido por unanimidade” (A Semana, 30-1-1890).

As edições de Janeiro dão conta dos “protestos patrióticos” (A Semana de 23 de Janeiro), contra o Ultimato britânico, publicando mesmo, na sua edição de 30 de Janeiro, um texto de Jayme Batalha Reis intitulado “O Movimento Patriótico”.

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