quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Vida Torriense nos Finais do Século XIX, nos caracteres da imprensa local (1885-1890) - 2


Fevereiro de 1885

Um temporal marcou o início do segundo mês do ano: «fez um tempo horrível. (...) O Sizandro encheu e invadiu algumas ruas da vila à Horta Nova (...) os estragos causados pelo temporal, não são, felizmente, de importância».

Já então as condições sanitárias do rio não eram as melhores: “Torres Vedras tem uma cinta de vallas, de nível inferior ao nível actual do rio, onde as águas das chuvas de envolta com os resíduos das fábricas de destilação e materiais orgânicos de diversas proveniências, estão em perpétua fermentação, originando miasmas de differentes espécies e gazes infectos que tomam a sua vizinhança altamente incommoda e perigosa» pelo que não seria de estranhar que em “ Torres Vedras todos os annos» se manifestassem doenças «tais como: febre Typhoide; purpura hermorrhagica; escorbuto; doenças classificadas como pestilentas». Por solicitação do representante do circulo eleitoral local, visconde de Balsemão, o governo concederia ainda nesse mês à Câmara Municipal “d’este concelho o subsídio de 4.500$00 réis para encanamento das obras do rio Sizandro».

Mas a falta de educação da população agravava ainda mais as já de si precárias condições sanitárias da vila, como nos é revelado por uma queixa apresentada por vários moradores da Porta da Várzea ao «jornal de Torres Vedras», àcerca «do deplorável estado em que se encontra o pavimento da rua, que, segundo dizem, é um completo atoleiro, dando-se de mais a mais a circunstância de alguns moradores fazerem para a rua todos os despejos (...)».
A falta de instrução era igualmente apontada como uma das principais causas de grande número de desordens que então se registavam, aliando-se a essa causa a condição miserável em que vivia parte da população do concelho, pelo menos a rural:
«Multiplicam-se os crimes na Comarca de Torres Vedras (...), No mez de fevereiro (...) houve no hospital d'esta villa quatro autopsias cadavericas por mortes violentas, por assassinatos, alguns dos quaes perpetrados com requintes de selvageria e crueldade; no mez de Janeiro já houvera uma».
As miseráveis condições de vida da população seriam igualmente responsáveis pelo elevado número de falecimentos provocados pela variola (do total de 51 falecimentos registados em Fevereiro, no concelho, 19 foram provocados por essa doença).

Entretanto na vila nascia uma nova filarmónica que se vinha juntar à já existente, a «Philarmónica Torreense»; “Um grupo de moços, artistas intelligentes da villa, sob a direcção do nosso amigo, o sr. Augusto dos Santos Ferreira,e dirigidos na parte artística pelo hábil professor de música, o sr. Augusto César da Costa Pereira, constituíram em sociedade para organisarem uma fanfarra que Se denomina «Fanfarra 24 de Julho»”.

Fevereiro costuma ser também o mês do Carnaval. Nessa altura esta festa não tinha ainda a importância que atingiu nos nossos dias, como salientava uma crónica dessa época:
«O Carnaval passou-se sem animação e desengraçado, como nos anos anteriores. Poucas exibições, e essas apresentando-se sem espírito. No domingo destacou-se apenas da semsaboria geral um grupo de mascarados, muito bem vestidos, em carruagens, fazendo visitas.
«Um cavalheiro da terra reuniu em sua casa, na noite de terça-feira, muitas pessoas de suas relações e passou-se uma boa noite em família (...)».

Mais concorrida terá sido a tradicional procissão de quarta-feira d  cinzas que saia «da egreja de S, Thiago, levando grande número de andores, e percorrendo as seguintes ruas e praças: largo de S. Thiago, ruas de S. Thiago, Olaria e Espírito Santo, Praça Municipal, rua de S. Pedro, Travessa dos Canos, rua dos Canos, de Traz do Açougue e dos Celleiros, e largo do Terreirinho».
«Fazia a guarda de honra a força de caçadores nº 6 e cavallaria n.º 4 aqui destacada, e atrás do pallio seguia a philarmónica torreense; grande número de irmãos da ordem terceira e bastante povo».

Paralelamente a estes acontecimentos o «Jornal de Torres Vedras» fazia-se porta voz dos interesses dos 150 comerciantes e industriais da região sugerindo a criação de um Tribunal Comercial na vila. E o cronista do jornal fundamentava essa pretensão escrevendo que em Torres Vedras  “se encontra tudo o que é necessário à vida, e ainda o supérfluo, por preços bem mais modicos que os da capital, tem estabelecimentos de todos os géneros de commércio, perfeitamente surtidos tem uma importante fábrica de moagem de cereais e outra de destilação, tem quatro açougues onde se vende carne de vacca diariamente; tem um frequentado mercado mensal, e uma bella praça de peixe. As casas de commercio effectuam todos os dias valiosas transacções, e os productores de vinhos offerecem as suas adegas repletas a compradores, quasi todos estrangeiros, que de bem longe os veem procurar».

100 baptizados, 51 falecimentos e 18 casamentos marcaram a passagem de mais um mês da história torriense...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ana Jorge discorda com encerramento da urgência de Torres Vedras.

 Respondendo às notícias sobre o encerramento das urgências cirúrgicas do Hospital de Torres Vedras, que têm sido divulgadas nos últimos dias, como se pode ler AQUI, na última edição do jornal Sol, a antiga ministra da saúde, boa conhecedora da realidade dos concelhos do Oeste, veio hoje tomar posição sobre o assunto, a qual pode ser lida na notícia abaixo:

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Carnaval de Torres Vedras 2012 - foto reportagem de Dário Cruz

Vejam  no link em baixo, a foto reportagem do fotógrafo Dário Cruz, com 33 fotografias sobre o Carnaval de Torres, editada pelo Público on-line:

Carnaval de Torres Vedras 2012 (clicar para ver).

Reportagem da revista "VISÃO" sobre a Terça-feira de Carnaval em Torres Vedras



“PIEGUICES E MATRAFONAS

Por  SARA BELO LUÍS  (com fotos de MARCOS BORGA )

“O Primeiro-Ministro argumentou que era preciso saber quem é que queria lutar «para vencer esta crise». Por isso, na manhã de terça-feira de Carnaval, 21, os funcionários das Finanças de Torres Vedras apresentam-se ao serviço. Estão nos seus postos de trabalho, a VISÃO pode comprová-lo, a atender os (poucos) utentes que aparecem. Alguns deles trazem ao peito um crachá, distribuído pela organização do Carnaval da cidade, que diz: «Eu produzo».

“Estarão ali religiosamente até às 17 e 30, mesmo que a afluência não o justifique: num dia normal, ao meio-dia, há 150 senhas para atender; hoje, vamos em quinze. «Não se justifica estarmos aqui», comenta uma. «Viemos cá buscar o subsídio de refeição», ironiza outro. Não é possível um retrato para a VISÃO, dentro da repartição, mas, cá fora, na rua, o chefe não vê inconveniente: um vai buscar a cabeleira; outra, os óculos de fundo de garrafa; outra, as antenas da abelha e outra, ainda, as mangas-de-alpaca, costuradas pela própria para nos fazer lembrar o funcionalismo público do tempo da outra senhora. «Há muito que não via uma coisa dessas», notamos. Resposta: «Também eu não.» Em Torres Vedras, o Carnaval é um estado de espírito.

“O cortejo está reservado para a tarde. Na escola primária funciona o quartel-general da organização e, no quadro da sala de aula, alguém escreveu o sumário: «Enquanto houver um folião na rua... o Carnaval de Torres continua.» E a festa está, de facto, nas ruas, há barraquinhas com pastéis de feijão, roulottes de bifanas, farturas, cerveja, sangria, serpentinas, confettis, máscaras, chapéus, bombos, Ivete Sangalo e muito Michel Teló (sim, o do inenarrável «Ai se eu te pego.»)

“SENHAS POR DISTRIBUIR

“Na zona por onde passa o corso, um quarteirão com um perímetro de cerca de 800 metros, só os cafés e os restauram permanecem abertos - e também a loja chinesa, ainda repleta de fatos e acessórios de Carnaval made in China. O Centro de Emprego abriu apenas das 9 às 11,mas os funcionários do Tribunal do Trabalho e da Autoridade para as Condições Trabalho (os outros dois serviços da Administração Central localizados dentro do recinto vedado para as celebrações) estão presentes. Com muito menos afluência, testemunham à VISÃO, em ambos os locais, neste dia mais ou menos às moscas - e que até teria sido um bom dia para tratar de burocracias. À porta da Autoridade para as Condições do Trabalho, por exemplo, uma hora antes de fechar, o segurança continuava com as senhas na mão, por distribuir.

“São, ao todo, seis dias de Carnaval em Torres Vedras. Um investimento 400 mil euros, uma expectativa de 300 visitantes. A organização diz que, este ano, têm tido mais gente e a perceção que há é a de que isso se deve à publicidade grátis proveniente da «intolerância de ponto» do Governo, explica a assessora de imprensa do presidente da Câmara, o socialista Carlos Miguel. Trata-se de um Carnaval inofensivo, o de Torres, familiar, com muitos idosos e bebés de colo a passear. E no qual, mesmo com a propagação das Brancas de Neve, Minnies e Estrunfes da moda, continuam a reinar as matrafonas. Uma delas (um deles, na verdade) insistiu em que a VISÃO desse uma moeda ao Presidente da República e anotasse esta rima: «Vamos tirar do buraco o pensionista Cavaco.»

“Se a política sempre dominou o Carnaval de Torres Vedras, este ano a sátira faz-se muito à custa da troika. Num dos carros alegóricos, Poul Thomson, representante do FMI, põe Paulo Portas a fazer abdominais em cima de uma bola de pilates e Pedro Passos Coelho, no chão, a fazer flexões (a propósito, o desporto é o tema deste ano). Noutro carro, o galo de Barcelos aparece a ser triturado numa picadora de carne e, noutro ainda, o primeiro-ministro mete notas no porquinho-mealheiro de uma série de bancos. Há muitos piegas confessos («Sou piegas, mas divirto-me mais do que tu») e muita pieguice sobre o fim dos feriados, das reformas, das regalias, da Saúde e da Educação... A VISÃO não avistou nenhum folião mascarado de Passos Coelho ou de Cavaco Silva. Essas máscaras não se devem fabricar na China”.

In VISÃO de 23 de Fevereiro de  2012