quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Autárquicas 2017 – o que se joga em Torres Vedras


O PS joga a manutenção das maiorias absolutas que detém na Câmara e na Assembleia Municipal, bem como a liderança na maioria esmagadora das 13 freguesias (lidera 10).

O PSD (agora coligado como o CDS) procura, no mínimo, retirar essa maioria absoluta e, no máximo, quebrar 40 anos de domínio socialista, ao mesmo tempo que defende a sua única freguesia, a Freiria e procura aumentar o seu peso nesse meio.

A CDU procura, no mínimo, garantir o seu vereador e a liderança na freguesia da Carvoeira/Carmões e, no máximo, conquistar um segundo vereador, eleger mais de 3 deputados municipais, reforçar a sua influência na maior parte das freguesias, e tornar-se a força charneira da governação no município e nalgumas freguesias.

O BE vai procurar eleger pela primeira vez um vereador e um (ou mais) representantes na Assembleia Municipal, não concorrendo nas freguesias.

Os independentes da “Torres nas Linhas” vão procurar, no mínimo, repetir o feito das eleições de 2013, onde elegeram um deputado para a assembleia e colocaram um representante na mais populosa freguesia do concelho e outro numa freguesia rural ( na Ventosa, onde não concorrem este ano, situação que procuram repetir noutra freguesia) e, no máximo, aumentar essa representação.

Esta é uma visão simples, ou mesmo “simplista” das ambições que estão em jogo no concelho de Torres Vedras neste acto eleitoral.

Mas, se analisarmos mais em pormenor a situação conjuntural, tudo o que acima indicamos como estando em jogo, pode ser baralhado e resultar numa situação completamente diferente.

O PS vive uma situação nova que os adversários procuram aproveitar ao máximo, que é o de não ter na liderança à corrida à Câmara uma figura carismática como o foi Carlos Miguel, para além de sofrer um certo desgaste por dominar este concelho há 40 anos, apesar de apresentar uma equipa que tem produzido algum trabalho interessante nas áreas da cultura, ambiente e educação, mesmo que pontualmente possam ser alvo de críticas.

Por outro lado, o candidato do PS tem sofrido algum desgaste devido a uma acusação de plágio, que tem feito esquecer a sua imagem de homem esforçado e de vereador competente na área do ambiente.

Pode ter cometido outro erro que foi o de subestimar o adversário à sua direita, deixando que este se posicionasse no terreno muito cedo, ainda antes do verão, assim como não caiu bem o facto de ter recusado participar em debates promovidos pela comunicação social local.

Contudo, não é previsível que perca as eleições, embora a reconquista da maioria absoluta esteja em risco.

Já o PSD, que na conjuntura local tinha, pela primeira vez em muitos anos, a possibilidade de ameaçar seriamente a Câmara torriense, está em desvantagem pelo facto de apresentar um candidato pouco conhecido, embora tenha tentado colmatar esse facto com uma campanha agressiva, com grandes outdoors, iniciada ainda antes do verão, mas que leva muita gente a questionar a origem financeira do apoio necessário a essa campanha. Além disso é prejudicado pela má imagem que o PSD tem actualmente sob a liderança nacional de Passos Coelho.

Apesar de, ao contrário do que aconteceu em 2013, não ter a concorrência de candidatos à sua direita (o CDS concorre desta vez em coligação como o PSD e o PNR desistiu da candidatura), a distância que está do PS é enorme (cerca de 10 mil votos nas últimas eleições) e só uma hecatombe nas hoste socialistas podia provocar uma reviravolta, se bem que seja uma incógnita o destino dos quase 50% de abstencionistas e dos quase 5% de votos brancos das últimas eleições,que podem contribuir para uma reviravolta se deste vez votarem, e era preciso que o fizessem escolhendo maioritariamente o PSD.

Se o PS perder a maioria absoluta torna-se mais importante a situação das outras três forças politicas concorrentes, o PCP, o BE e o “Torres nas Linhas”, pois o número de candidatos que consigam eleger pode vir a ser fundamental para uma coligação na Câmara.

Das três o PCP tem sido o tradicional aliado do PS, quando este esteve em minoria, e é o único que tem um vereador. Resta saber se é desta vez que o BE elege um vereador, já que me parece que, para esta eleição, o Torres nas Linhas apresenta um candidato pouco conhecido (ao contrário do que acontece na junta de freguesia da cidade), e que não teve os meios do PSD par se dar a conhecer.

Resumindo e concluindo, para a Câmara Municipal, estão várias questões em aberto, umas mais credíveis do que outras:

- vai o PS perder a maioria absoluta?;

- será desta vez que o PS perde a Câmara que detém há 40 anos?;

- vai o PCP conseguir manter o seu vereador, ou mesmo reforçar a sua presença?;

- será que o BE consegue eleger o seu primeiro vereador?

Em relação à Assembleia Municipal, é provável que não se registe grande alteração, pois o PS, mesmo que não chegue à maioria absoluta pelo voto directo para esse órgão, costuma obtê-la através dos representantes das freguesias. Pode haver, contudo, algumas novidades da parte dos partidos mais pequenos, sendo curioso ver se a CDU ultrapassa o número de 3 eleitos, aproximando-se da época em que elegia 6, se o Torres nas Linhas, não só mentem o seu representante, como acrescenta mais algum, e se o Bloco de Esquerda consegue eleger alguém.

É nas eleições para as juntas de freguesia que as coisas podem ser mais animadas e surpreendentes.

Nas últimas eleições o PS detinha a liderança em 10 das 13 freguesias, enquanto as outras três ficaram sob a liderança, respectivamente, da CDU (Carvoeira e Carmões), do PSD (Freiria) e independentes apoiados implicitamente pelo PSD e pelo CDS (Ponte do Rol ).

Não se esperam grandes surpresas em freguesias como Maxial/Monte Redondo, S. Pedro da Cadeira, Silveira, Turcifal e Ventosa, onde o PS parece sólido, restando apenas saber se mantem as maiorias absolutas.

A dúvida, quanto muito, está em saber quem ganha o mandato do “Torres nas Linhas” na Ventosa, movimento independente que desta vez não concorre nesta freguesia , mas concorre agora em S.Pedro da Cadeira, estando aqui a outra dúvida, saber se este movimento repete aqui o resultado que conseguiu na Ventosa em 2013.

Nas restantes freguesias a situação é mais complexa e incerta.

Na Freiria, conquistada pelo PSD nas últimas eleições, a disputa com o PS vai ser renhida e a  CDU pode ter uma palavra a dizer no equilíbrio de forças.

Naquela que é uma das maiores freguesias do concelho, A Dos Cunhados e Maceira, a disputa é ainda mais renhida e imprevisível, pois, matematicamente, o PSD pode beneficiar da coligação com o CDS e tirar a liderança ao PS, e, para animar ainda mais, a candidatura da “Torres nas Linhas” pode baralhar ainda mais a situação.

No Ramalhal a dúvida é saber se o PS mantém a maioria absoluta e se a CDU e a “Torres nas Linhas”, não só mantêm o eleito de cada um, como aumentam a sua representação.

Em Campelos e Outeiro da Cabeça, um tradicional “feudo” do PSD, mas que o PS ganhou em 2013, o aparecimento de um movimento independente, “Movimento Social Dinâmico”, pode alterar a situação.

Em Dois Portos e Runa, onde o PS governou em minoria, tendo como principal adversário uma lista independente, o facto desta não concorrer este ano pode baralhar o jogo, restando saber até que ponto o PSD/CDS ou a CDU, cada um com um representante eleito, podem beneficiar dessa situação, da qual foram os principais prejudicados em 2013.

Na única freguesia liderada pela CDU, a de Carvoeira e Carmões, a dúvida está entre a possibilidade de essa força politica recuperar a maioria absoluta ou se a quebra de votação anterior se mantem, podendo beneficiar o PS, que em 2013 se bateu taco a taco coma CDU.

Deixamos para o fim as situações mais complexas e imprevisíveis, a freguesia da Ponte do Rol e a maior do concelho, a de Torres Vedras (Stª Maria, S.Pedro e Matacães), onde votam mais de 20 mil eleitores.

A freguesia da Ponte de Rol é liderada por uma lista independente, que em 2013 teve o apoio implícito do PSD e do CDS e obteve a maioria absoluta, relegando o PS para a oposição, mas desta vez aqueles dois partidos concorrem em coligação contra ela. O resultado torna-se uma grande incógnita, e a disputa vai ser renhida, sendo o PS o principal a beneficiar dessa situação.

A freguesia da cidade foi liderada em maioria absoluta pelo PS, mas apenas com a diferença de um mandato em relação aos representantes das outras forças (PS – 10, PSD – 4, CDU – 3, Juntos por todos – 1 e “Torres nas Linhas” – 1). Desta vez o “Juntos por Todos” não concorre e alguns dos seus elementos integram a lista do PSD.

A candidatura do PSD é aqui bastante forte, sendo liderada por uma figura carismática e simpática e com trabalho feito a nível social, podendo surpreender e, no mínimo, levar o PS a perder a maioria absoluta. Também é uma incógnita o que vai acontecer com as outras candidaturas e quem vai beneficiar mais do facto de apenas concorrer uma lista independente e de o BE não apresentar candidatura nesta eleição, ao contrário do que aconteceu em  2013.

No meio de todas as incógnitas, soma-se a incógnita do que vão fazer os abstencionistas, quase 50% nas últimas eleições autárquicas, ou os que optaram então pelo voto em branco, quase 5%  (onde estão quase todos os  7 mil votos perdidos pelos dois partidos dominantes entre 2009 e 2013).

Talvez nunca como neste ano, esteja tanta coisa em jogo e existam tantas situações imprevisíveis.

Por último duas notas:

As opiniões aqui expressas apenas comprometem o seu autor, não têm uma base científica e o que se prevê não espelha o desejo do autor, sendo apenas uma reflexão empírica.

Em segundo lugar, uma declaração de interesse: o autor concorre como independente à Câmara de Torres Vedras na lista da CDU, em posição não elegível.

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