quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Esclarecimento acerca da remoção de árvores na Praça Machado Santos

O prometido é devido:

Divulgámos a nota do BE sobre a remoção de àrvores da Praça Machado dos Santos;

Agora aqui mostramos o esclarecimento da Câmara sobre os assunto, embora se mantenham algumas dúvidas sobre o real estado das àrvores (onde está o parecer científico).

Vamos ficar atentos à promessa de reposição e de recuperação daquele espaço para depois do Carnaval:

Esclarecimento acerca da remoção de árvores na Praça Machado Santos: A Câmara Municipal vem esclarecer a população acerca da remoção de árvores na cidade, nomeadamente na Praça Machado Santos.

Surpresa na Praça da Batata; atentado, brincadeira de Carnaval ou "renovação"?

O comunicado que aqui transcrevemos foi divulgado pela secção torriense do Bloco de Esquerda, datado de 29 de Janeiro.
Pensamos que o seu conteúdo pode ser subscrito por qualquer pessoa, da direita à esquerda, que preza a natureza e o ambiente ou por qualquer cidadão torriense que se espantou por mais um atentado ao cada vez mais raro património natural que ainda existe no centro urbano e que só encontra, por parte dos responsáveis, respostas esfarrapadas.
Se viermos a conhecer uma resposta credível a este comunicado, reservamos um espaço neste blog para a sua divulgação.
Por agora o único comunicado credível é este que em baixo transcrevemos:

“COMUNICADO OFICIAL DO BLOCO DE ESQUERDA DE TORRES VEDRAS SOBRE A REMOÇÃO DAS ÁRVORES NA PRAÇA DA BATATA
“O Bloco de Esquerda de Torres Vedras indigna-se perante a remoção radical das árvores da Praça Machado Santos (Praça da Batata) cujos canteiros foram substituídos por cimento na passada sexta-feira, dia 26 de Janeiro de 2018. 
Deste modo e através de um só golpe, a Câmara Municipal resolveu transformar uma praça ainda com alguma vida (árvores, gatos, pássaros) num espaço vazio entre prédios em ruínas.
“O Bloco conclui que a devastação infligida ao património arbóreo na cidade de Torres Vedras e extensível a todo o concelho, é aplicada pela antiga e profunda ignorância e irresponsabilidade das designadas "podas camarárias" (podas radicais ou rolagem).
“Apesar de ser um tema há muito trazido para o debate público pelo Bloco de Esquerda em Torres Vedras, a política florestal da CMTV representa um desrespeito absoluto pelas árvores e pelos munícipes, como, por exemplo, se verificou no que foi feito às árvores no Paúl, designadamente em 2011 e 2016.
“O facto do referido "Diagnóstico Fitossanitário" mencionado pela CMTV - em comunicado publicado no website do município a menos de 24h da remoção das seis árvores (da espécie Robinia Pseudoacacia) - revelar que as árvores estavam debilitadas, tal não significa que devam ser automática e levianamente removidas.
“O Bloco de Esquerda exige, para além do fim imediato das podas radicais em árvores ornamentais (urbanas), a procura de medidas alternativas que possibilitem a recuperação do tratamento de árvores, designadamente através da "dendrocirurgia", técnica especializada em estabilizar e recuperar árvores muito danificadas a fim de se estagnar e estimular a recuperação dos danos.
“No caso concreto das árvores arrancadas à Praça da Batata, para além da falta de cuidado com a qualidade do exíguo terreno onde estavam plantadas nunca os serviços sequer as regaram com água.
“Tudo poderia ser sido evitado se a CMTV tivesse a nobre ideia de ter no seu gabinete florestal uma equipa de técnicos cuidadores de árvores, um diagnóstico e um mapeamento das árvores danificadas. Neste aspecto o BE já tomou há alguns meses a iniciativa de organizar um mapeamento de árvores danificadas em Torres Vedras, aberto a todos os cidadãos e disponível num grupo público do Facebook intitulado por "Mapeamento de árvores danificadas e tratamento, em Torres Vedras” (https://www.facebook.com/groups/2007130399517683/).
“Sem uma mudança de política ambiental e sem a inclusão democrática dos cidadãos na defesa dos espaços verdes e do ambiente, continuaremos a não ter uma cidade, cidadania e consciência ecológica dignas do século XXI.
“É importante referir que o comunicado da Câmara Municipal de Torres Vedras:
“• não menciona a empresa que fez o estudo que indicou que as árvores fossem removidas;
“• não disponibiliza o relatório para consulta popular;
“• não apura as responsabilidades pelo facto das árvores terem chegado àquele estado;
“• não revela quais as alternativas que podiam ter sido tomadas nos últimos anos para que não existisse esta medida drástica na Praça da Batata que contribui para a destruição do património arbóreo do concelho.
“A Câmara Municipal refere que serão plantadas 12 árvores nos espaços verdes de Torres Vedras e o Bloco de Esquerda exige as seguintes respostas: onde, quando e quais as espécies a plantar e qual a sua origem, e se chegarão já amputadas, à semelhança das árvores novas no Pátio Alfazema e Choupal, algumas delas transplantadas já mortas, e a maioria estrangulada por braçadeiras, considerando que a resposta a estas questões devem ser feitas a curto prazo pela dignificação do ambiente e dos espaços verdes da cidade.
“Por fim, e dado ao insólito ocorrido na Praça da Batata o Bloco exige que a CMTV comunique o plano futuro para a Praça da Batata que se encontra neste momento com os “canteiros” acimentados”.


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A Vida Torriense nos caracteres da Imprensa Local (Finais do Século XIX) - (1885-1890) - Janeiro de 1888

JANEIRO de 1888

O ano novo não começou da melhor maneira para Torres Vedras nesse ano de 1888.

O mau tempo continuava a impedir, desde finais de Dezembro, a realização dos trabalhos agrícolas, prejudicando os “pobres trabalhadores, que têm passado dias e dias sem ganhar jorna “ (1).

Os temporais que tinham tido lugar em 27 e 28 de Dezembro de 1887, provocaram cheias e interromperam a ligação ferroviária entre Torres Vedras e Lisboa, provocando a “irregularidade” do serviço de correio (2).

Atribuía-se às obras na linha férrea a responsabilidade pelos prejuízos que o temporal provocou nalgumas terras, “devido ao desvio que se permitiu fizesse, no rio Sizandro”, citando-se o caso da “propriedade do sr. João Victorino Pereira da Costa, bastante danificada hoje em consequência da Câmara transacta ter consentido no que não devia consentir (…) assim com deixou que se construísse, sem as necessárias condições, requeridas ali pela afluência das àguas, o aterro sobre a Várzea do Reguengo (…). Os resultados não podem ser piores. Aí estão patentes” (2).

Uma certa decepção perante as possibilidades do novo meio de transporte recentemente inaugurado não impedia  que se apostasse no seu futuro, chegando a defender-se a construção de um ramal ferroviário que ligasse Pêro Negro ao Turcifal, proposta que seria nesse mês apresentada à direcção da Companhia dos Caminhos de Ferro portugueses.

Em decadência encontrava-se o único meio de transporte alternativo de então, embora durante alguns dias tenha sido o único meio de ligação com Lisboa, com os inconvenientes abaixo referidos:

“As correspondências expedidas de Lisboa a Torres, por uma só diligência, chega aos seus destinos atrasada, e a horas incertas da noite.

“É assim que estamos recebendo os Jornais de Lisboa e a da província” (2).

Tais inconvenientes demonstrados pelo transporte tradicional não impediram que, em 8 de Janeiro, fosse inaugurada uma nova carreira de diligência entre Torres Vedras e  capital, pertencente à companhia “António Alves Gato & Irmão (…) saíndo de Lisboa dois carros – um às 9 horas da manhã e outro ao meio dia, passando o das 9 por Dois Portos, e o do meio dia pelo Turcifal.

“Sai de Torres o primeiro carro às 5 horas da manhã, passando em Dois Portos; e o segundo às 10, pelo Turcifal.

“Os bilhetes vendem-se em Lisboa na Tabacaria Neves, e em Torres Vedras, na loja do sr. José Avelino (…). Preço, 1$000 réis” (2).

Uma das maiores preocupações da imprensa de então era com o saneamento da vila:

“Pedimos à Ex.ma Câmara que provindencie no sentido de serem mais rigorosamente cumpridas as disposições que sabemos estarem no ânimo de todos os srs. Vereadores, com respeito à limpeza e saneamento da vila.

“Nem a todos os pontos chegam a vassoura a limpar as imundices que a falta de saguões e pias obriga a acumular na ruas e vielas, havendo sítios onde a falta de asseio é positivamente uma vergonha (…)” (3).

A defesa do consumidor era então uma idéia ausente na  preocupação de alguns comerciantes, mas já então a imprensa local desempenhava o importante papel em denunciara os abusos, como se revela na seguinte notícia:

“O leite que alguns vendedores estão fornecendo para consumo, nesta vila, é uma perfeita burla feita aos consumidores. A um freguês foi vendido, no dia de Ano Bom, um litro de leite que, analisando no aparelho, continha 65 por cento de àgua (…)” (1).

Outro problema com que a população local então se debatia era com a iluminação pública.

 Iniciaram-se então experiências com um novo tipo de iluminação: “já estão colocando nas ruas da vila os novos candeeiros para a iluminação pelo sistema gasogénio.

“Os candeeiros são muito elegantes e darão a Torres Vedras um aspecto moderno” (4).

De facto, avelha iluminação a petróleo, inaugurada em Fevereiro de 1864, parecia condenada:

“É de péssima qualidade o petróleo que há tempos para cá se consome na iluminação da vila. As luzes parecem de lamparina. Ousamos lembrar à nossa vereação que mude de freguês; porque o actual está a mangar com a gente desde que se faz a experiência da luz a gasolina.

“Convém notar que as noites estão escuras, e a respeito de policias nikles (…)” (2).

A falta de policiamento era outra preocupação de então, provocando alguns casos graves de criminalidade:

“Afiançam-nos que nas imediações da vila têm sido atacados transeuntes sendo assaltados de preferência os trens, e já se mencionam alguns furtos cometidos por ataques de mão armada.

“Como boato cita-se que existe um grupo de homens que se acoitam pelos pinhais do Vale Paxis, a quem saem à estrada.

“Como Torres Vedras não tem policia será bom que estejamos de prevenção para não transitar de noite fora da vila, pois diz-se que ante-ontem, mesmo junto aos arcos do aqueduto, fora assaltado um cocheiro que guiava um trem de retorno (…)” (3).

Nessa época eram raros os espectáculos com os quais a população se pudesse distrair. Por isso era motivo de entusiasmo a presença na vila de uma companhia de teatro, “Theatro Recreios Dramáticos”:

“Depois d’uma longa interrupção nos espectáculos, devido ao mau tempo, que não permite representações no teatro barraca, onde o público ficava muito exposto às intempéries da estação, realizou-se no domingo [8 de Janeiro] na sala generosamente cedida no Convento da Graça, um sarau que a companhia Dias convocou em auxílio das suas despesas e transtornos.

“O público foi, como de costuma ser, generoso e pronto (…)” (3).

Mas um dos mais importantes acontecimentos desse mês de Janeiro de 1888 foi a realização do mercado de S. Vicente, com cuja descrição encerramos esta nossa crónica:

“A vila no Domingo [22 de Janeiro] tinha um aspecto estranho. Por todas as ruas e praças transitavam grupos, procurando os estabelecimentos e fazendo as suas compras. A faina comercial desenvolveu-se sofrivelmente, mostrando uma certa animação.

“Na Várzea do Amial fez-se a feira do gado suíno. O dia esteve benigno, apesar do Sol se não mostrar muito expansivo. O aspecto do mercado era deveras atraente. A concorrência foi enorme, e os grupos mercadejavam por todos os lados, e cada um seguia depois com o seu suíno alentejano, gordo, futigado, de calcheta no chispe, como verdadeiros condenados à morte.

“O preço da carne começou por ser de 2 800 a 2 700 réis, e já para o fim do mercado estava a 2 400 réis, havendo ainda bastante por onde escolher.

“Na ermida de N. S. do Amial, fez-se festividade a S. Vicente, havendo de tarde arraial. É a festa chamada dos charnequeiros, e reinou bastante alegria, não sendo alterada a ordem.

“ A Phylarmonica Torreens eabrilhantou a festividade.

“A policia do mercado foi feita por alguns gurdas civis vindos da capital, e pelos oficiaes da administração deste concelho, e o zelador municipal.

“Foi capturdo um contrabandista (…)” (4).

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(1) A Semana de 5 de Janeiro de 1888;
(2) Voz de Torres Vedras de 7 de Janeiro de 1888;
(3) A Semana de 12 de Janeiro de 1888;
(4) A Semana de 26 de Janeiro de 1888.



quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Há 210 anos, Torres Vedras ocupada pelas tropas francesas



6 de Dezembro de 1807 – Quando os Franceses ocuparam Torres Vedras


Há 110 anos os torrienses passaram o Natal sob ocupação francesa.

As tropas de Junot cruzaram a fronteira portuguesa em 19 de Novembro de 1807, só conseguindo entrar em Lisboa em 30 de Novembro.

A família real tinha saído de Lisboa a caminho do Barasil no dia 27.

Em Torres Vedras ficamos a dever ao padre Madeira Torres, testemunha coeva e observador atento, a descrição do modo como esses acontecimentos foram sentidos na localidade e da sua ocupação pelas tropas francesas.

Refere aquele autor que “Torres Vedras (...) foi a primeira em participar da consternação e saudade (…) pela ausencia do nosso adorado Principe”.

Ainda “os habitantes começavam a lamentar-se de tamanha perda,(…) logo no dia 6” de Dezembro “foram constrangidos a franquear quarteis, e munições de bôcca para a tropa de mais de duas brigadas, ou de quasi toda a segunda divisão, cujo commando ainda então estava (como o fóra pela marcha) provisoriamente no Brigadeiro Charlot, que o largou logo nos dias seguintes ao General Loison (…).

 No dia 8 do mesmo mez adiantou-se para a Praça de Peniche o General de Brigada Thomiers com dois batalhões, e passados alguns dias retrocederam dois para Mafra, onde Loison estabeleceo ordinariamente o seu Quartel General, e permaneceram aqui fixos os dois Batalhões dos regimentos 12 e 15 de infantaria ligeira”, que eram compostos por cerca de tres mil homens, sob o comando do Brigadeiro Charlot.

“Nos primeiros dias padeceo esta Villa não só os gravissimos incommodos do alojamento, mas quasi todo o pêso das requisições para a inteira subsistencia da tropa”.

A moderação do brigadeiro Charlot foi muito elogiada pelo ilustre pároco torriense, até porque “contribuio ella para nunca se interromperem as funcções do Culto, nem mesmo a do Natal, e para se fazerem com boa ordem, e até com esplendor”.

Com a proximidade da Primavera o mesmo brigadeiro aliviou a vila “d’algum pêzo de tropa, mandando destacar duas Companhias para a Lourinhã, e duas para o logar do Turcifal: Em fim nos ultimos dias de Maio levantou-se o quartel do General Charlot, quando partio com o Batalhão do regimento 12, e com os outros, que estavam em Mafra, para a frustrada expedição do Douro e Porto, commandado por Loison.

“Pelo mesmo tempo se transferio o Batalhão do Regimento 15 para Mafra, e veio para aqui um dos alojados na Praça de Peniche, de que era Commandante o Major Bertrand, o qual apenas se demorou um dia.

“Desde então ficou esta Villa alleviada de tropa effectiva; mas não deixou de ser frequentada, e incommodada por alguns destacamentos, pelo transito dos Officiaes do Estado Maior, e tambem de varios corpos do Exercito.” (1).

O bom tratamento dado à população pelo brigadeiro Charlot foi igualmente confirmado por outra testemunha coeva, Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato, um dos Grandes de Portugal, que se refugiou com toda a família na Quinta Nova, em Matacães, a pouca distância da então vila de Torres Vedras, onde recebeu “a noticia do embarque da Familia Real e da entrada dos francezes em Lisboa. Meu irmão e eu (...) assentámos em ficar aquelle inverno” (de 1807) “ no campo, sem virmos para Lisboa, como costumavamos vir todos os annos.

“Assim o fizemos e, permanecendo alli por todo o tempo que os francezes estiveram em Portugal, escusado é dizer que nem tivemos nem desejámos ter influencia alguma no seu Governo.

“Apenas tivemos a comunicação necessaria ou de civilidade com o General Charlot, que residia em Torres, e com os poucos officiaes que mais viviam com elle. Tambem vimos o general Loison, que por alli passou na sua espedição das Caldas da Rainha; não vimos mais nenhum General nem outro empregado, e até ao mez de Agosto seguinte” (de 1808) “não tivemos incommodo ou susto algum, porque Charlot não era mau homem e queria conservar a paz e o socego” (2).

Mas não foi apenas o ocupação militar alterar a vida dos habitantes desta vila. Cedo a ocupação se fez sentir em termos económicos.

Em Fevereiro de 1808 tomou-se conhecimento de uma ordem de Napoleão para lançar, sobre todo o teritório porugês, um imposto extraordinário para efeitos de guerra, dando-se início à sua execução em Abril desse ano.

As vilas da comarca de Torres Vedras, que ía da Lourinhã e Cadaval até Sintra e Cascais , foram constrangidas a pagar 8000$000.

Só as vilas de Torres Vedras e Ribaldeira, cujos domínios correspondem, aproximadamente, aos actuais limites administrativos do concelho de Torres Vedras, pagavam mais de metade do imposto a para toda a comarca (respectivamente 3000$000 e 1200$00), o que revela a importância económica desta região (3).

Em relação aos limites administrativos de Torres Vedras, aquele valor de 3000 réis foi subdividido entre as 38 vintenas do concelho, sendo que as cinco que mais contribuíram para aquele valor foram, respectivamente, a vila de Torres Vedras (907 réis), Turcifal (250 réis), Freiria (200 réis), Azueira, actualmente pertencente ao concelho de Mafra (150 réis) e Runa (140 réis) (4).

Torres Vedras só voltou a sentir o incómodo da presença militar em Agosto do ano seguinte, quando uma parte das tropas francesas, comandadas por Thomiers, atravessou Torres Vedras. Foram estas forças que se defrontaram com os ingleses na batalha da Roliça.

Mais uma vez Torres Vedras viveu estes acontecimentos à distância: “(...) na tarde de 17 d’Agosto de 1808, constou” (em Torres Vedras) “da batalha da Roliça (...) pelos que se retiravam feridos do Exército, e por alguns prisioneiros, que aqui vieram pernoitar, escoltados por uma patrulha commandada pelo Capitão Picton do Corpo da Polícia. N’essa acção era commandado o Corpo da Tropa Franceza pelo General Delaborde, o qual vendo-se obrigado a retirar-se depois de sustentar o resto do dia com evoluções, se aproveitou da noite para largar de todo o campo, e tomou a estrada, que diante da quinta da Bogalheira se dirige a Runa, onde descançou poucas horas, prosseguindo a marcha pelo Caminho da Cabeça. Em quanto o Corpo principal seguia, não deixavam de passar pela Villa em toda a noite soldados dispersos, que eram outras tantas testemunhas evidentes da victoria dos nossos alliados: pedio ella sem duvida publicos applausos, porém houve a necessaria prudencia em suffocal-os, o que servio para livrar a Villa d’algum severo castigo” (5).

Tomando conhecimento da Batalha da Roliça, Junot decidiu abandonar a capital, em direcção a Torres Vedras, para travar o avanço das forças inglesas.

“Junot, sendo informado por uns camponezes que Laborde estava combatendo só com as tropas inglêsas, suppoz que estas seguiam sobre Lisboa, pela estrada de Torres, emquanto o exercito português seguiria a estrada real de Rio Maior- Alcoentre.

“Como ligava mais importancia ao exercito inglês, resolveu atacar primeiro este, e, só depois de vencel-o, viria atacar o exercito português.

“D’esta forma determinou fazer a concentração de todas as suas forças em Torres Vedras” (5).

Estávamos nas vésperas da Batalha do Vimeiro, que teve lugar em 21 de Agosto de 1808, tema ao qual voltaremos em Agosto do próximo ano.

(1)    - Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), pp.164 a 171;
(2)   - Memórias de Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato (...) (1777 a 1826), ed. revista e coordenada por Ernesto de Campos de Andrade, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933, p.52;
(3)   - Livro nº24 dos Acórdãos da Câmara de Torres Vedras (1802-1812), vereação de 17 de Abril de 1808, ff.164 e 164 v.;
(4)   - Livro nº24 dos Acórdãos da Câmara Municipal de Torres Vedras (1802-1812), vereação de 30 de Abril de 1808, ff.166v. a 170v.;
(5)   - Madeira Torres, obra citada,  pp. 171-17;
(6)   - Victoriano J. Cesar, Invasões Francesas em Portugal - 1ª parte (...) Roliça e Vimeiro, Lisboa 1904, pp. 112-113.

(texto publicado no jornal Badaladas, na série "Vedrografias", em 29 de Dezembro de 2017)